sábado, outubro 11, 2008

Minha querida Misscat


Um dia, há menos de 1 ano, apareceu uma meia-leca de gato, miando e tremendo no jardim dos meus pais. Muito pequenino, com ar doente de quem já só dura 1 dia, 2 se tanto. Ali se aninhou com ar de quem já não sai. E em boa verdade escolheu bem. Foi acolhida, mimada, levada ao veterinário, vitaminada, vacinada. Teve direito a cama quente, com tecto, comida. E muitos mimos. Por esta altura já se sabia que era gata. Chamou-se-lhe misscat, embora este fosse só o nome oficial, o do B.I digamos assim. Tinha vários, mais ou menos carinhosos, e reconhecia-os todos. Desde cedo misscat retribuiu em dobro ou triplo o carinho que lhe dedicavam. O seu ar malhado, com um olho de cada cor, os dois muito grandes num focinho afilado, davam-lhe um ar ladino, besnica, sardanisca como lhe chamava a minha mãe. Tinha alma selvagem e trepava tudo o que lhe aparecia. Apreciava o mundo das alturas. Era meiga, brincalhona e faladora. Interrogava-nos, falava-nos e resmungava quando contrariada, sim, sim, era mesmo assim. Sempre desafiando para a brincadeira, mordiscava com jeitinho e lambia com a sua língua áspera. Reclamava atenção sentando-se à frente do ecrã do computador se preciso fosse, trepava-nos para os ombros, metia-se com os dedos que escreviam no teclado, deitava-se sobre a impressora, a roupa lavada e passada... abeirava-se das nossas conversas apoiando as patitas sobre a nossa cabeça.
Encontrou uma casa com um espaço para ocupar e ocupou-o sem cerimónias, encheu-o todinho. Era impossível imaginar o escritório do meu pai sem ela ou o pessegueiro sem sua excelência lá pendurada.
Ontem morreu sem mais nem menos. Depois da correreria pelo jardim e da brincadeira costumeira morreu de repente perto da sua cama e da comida. Não consigo acreditar. Eu adorava esta gata, toda a família a adorava. Custa-me saber que não estive lá para lhe fazer uma festa no fim, um carinho. Aquele espaço todo que ocupou está agora tão vazio.