Sawadeeka I
9 de Junho de 2006
"Mãe: E quantas horas são?
Eu: Não sei bem entre 10 e 13h, acho que já não faz muita diferença.
Mãe: Boa viagem, tenta dormir, que frete tantas horas, ufff..."
Como explicar a quem se compadece das 10 ou mais horas de vôo que me esperam que isso não me importa. Na realidade, que adoro! Adoro acordar e ver que estou no avião. Dá a sensação de que estou mesmo a viajar, que estou em pleno movimento.Como aquelas situações na vida em que temos a percepção ultra real de estarmos mesmo a viver. O primeiro beijo depois de espera e da incerteza... Sempre me lembro de ter sido assim.
Gosto de aeroportos, gosto de aviões. Gosto da sua forma e de estar dentro deles.
No dia 10 acordo num hotel perto do aeroporto Charles de Gaulle. Sem ruído, sem sono, sem cansaço, dopada a adrenalina e entusiasmo. Sempre me lembro de ter sido assim. Terá sido o livro da Anita, em que viaja de avião para Roma...uhmmm...dunno.
Saboreio cada momento, está tudo a acontecer. Sei que estou a viver, depois de cinco meses de espera e preparativos estou a viver o que planeámos. Como quem finalmente sobe à cena depois de meses de ensaios.
A navette do Radisson leva-nos até ao terminal do CDG. O Sr. A não se faz rogado e exige os devidos elogios pelo hotel reservado na Net a preço invejável e tudo conforme. Ri-se com olhar de menino, rio-me também. Chegamos ao terminal..ou não?!! Com 3 malas num carrinho descobrimos que o "con...d" do motorista nos deixou no piso das chegadas. O elevador para o piso das partidas tem uma fila descomunal. Aliás, nem sei em que andar estou nem para onde devo ir e não sou a única estrangeira com ar perdido. Sr.A, graças a Deus parisiense dos quatro costados conhece o aeroporto. Sigo-o comentando com ar desgostoso "que feio e decrépito é o terminal". Ele responde-me que é natural, a Thai airways não pertence ao grupo da Air France e por isso não está no terminal novo. Já vi que quem não está com a Air france em Paris está mal arranjado... Descobrimos um elevador sem ninguém que nos leva directamente ao balcão de check in do nosso vôo, a sorte bafeja-nos.
Entramos no avião, o mesmo é dizer que entramos no admirável reino do lilás e rosa. Estas são as côres que dominam as fardas da tripulação, pontuadas aqui e ali por beige.São também as côres das cadeiras e claro do logotipo. Imersão total! As hospedeiras e comissários de bordo apresentam um sorriso à prova de bala. Muito profissional, muito imagem de marca. Temos direito a dois lugares na fila do meio, a sorte mudou-se para outro lado afinal. Não interessa, nada nem ninguém me pode arrancar à excitação mal disfarçada em que estou.
Já lá vão algumas horas, um caril verde de frango sem caril, luzes apagadas e o Sr. A que dorme a sono solto. Eu não. Apesar do meu kit de viagens de longo curso( viseira, meias , borrachinhas para os ouvidos, etc..) o sono foi-se com a sorte para outro lado. Não ouso acender a luz para ler o "The Joy Luck Club" da Amy Tan que trouxe para esta eventualidade. À minha volta está um mar de belas adormecidas, não tenho má educação que me permita espetar-lhes com o holofote que se acende sobre cada lugar. O mesmo não se pode dizer da minha vizinha de trás, well...
Finalmente, depois de ter fechado os olhos durante horas e de ter ouvido a minha respiração ampliada pelas borrachinhas nos ouvidos, sai o ecrã para o primeiro filme. Vejo de seguida um filme americano sobre uma rapariga que é uma sereia que encontra duas adolescentes ultra-excitadas e que se apaixona por um nadador salvador e tenta conquistá-lo no espaço de 2 dias. Pergunto-me para quem é feito um filme tão idiota. Concluo de imediato que é para os desgraçados fechados num avião a 2 ou 3 mil metros de altitude que não conseguem pregar olho e estão com o cérebro a flipar. Segue-se a pantera cor-de rosa. Sempre é mais divertido, mas nada de excepcional, aahhh meu querido Peter Sellers...A verdade é que vejo tudinho até ao fim e mais houvesse mais veria. Estou morta de cansaço, com os miolos em standby e sem conseguir dormir. Até seria capaz de ver um filme sobre tinta a secar.
Aterrámos em Bangkok 0h30 mais cedo que o previsto. Estamos prestes a sair do invólucro protector do avião que nos tem mantido numa frescura artificial. Anseio pelo ar quente e húmido que prevejo. Assim é, entramos na manga e os poros recebem um ar quente e sedoso. Mas é rápido, no aeroporto domina o Santo Ar Condicionado. Damos alguns passos trôpegos e reparamos na quantidade impressionante de polícias e forças da ordem. Por momentos penso que deve ser próprio dum país emergente, bem ao estilo paternalista ocidental. Mas a reflexão de alto gabarito esfuma-se com a ordem de uma mulher polícia que nos insta a correr dali para fora. O Sr. A diz-me que deve ser uma bomba, ninguém sabe o que se passa e cá vamos todos a correr, sem saber de quê, nem para onde. Caramba, depois de 10h sentados, toca a correr, parecemos uns patos desajeitados e estremunhados.
Afinal a bomba dá pelo nome de Bhumibol Adulyadej e é nem mais nem menos o Rei da Tailândia que festeja os 60 anos do seu reinado. Naquele momento está a chegar um qualquer alto-dignatário, cabeça coroada ou algo assim e nós estamos no caminho. Nos poucos metros que nos levam ao controlo de imigração ficamos a saber que o povo Thai ama e venera o seu mui respeitado e admirado rei. Por todo lado há posters e faixas amarelas em sua honra. 90% dos Thais usam uma t-shirt amarela que diz: Amo o meu Rei", os mais tímidos limitam-se a uma pulseira de borracha amarela.
Chegamos assim ao controlo de imigração, onde depois do controlo do passaporte me tiram aquela que deve ser a minha pior foto de sempre. Felizmente não a vi, devo estar um susto.
To be continued...
4 Comments:
Sofia, adorei! Eu passo por isto tudo nos meus vôos longo curso mas não saberia descrever tão bem! (Bem, tudo, tudo não, a parte da corrida por causa do rei nunca me aconteceu! Também nunca fui à Tailândia).
Beijos
Olá Pitucha,
Obrigada:-) Imagino que sejamos muitos a passar por situaçoes destas. Esqueci-me de referir uma senhora francesa que decidiu perfurmar-se com um cheiro fortissimo, de dar dor de cabeça. Também nunca me tinha acontecido aquela história da polícia e de ter correr, etc... Ha sempre uma primeira vez;-)Beijos, S
sawadeekap!
Woa, quer isso dizer que se fossemos como os tailandeses, teriamos todos tshirts com a cara do D. Duarte Pio?
SCARY! :|
Sawadeeka Irreligious,
LOL, really scary!!S:-)
Enviar um comentário
<< Home