sexta-feira, dezembro 29, 2006

Vaidade minha...

...com obra alheia. Regressar à cidade que me viu crescer e constatar que pouco a pouco lá vão florescendo ideias novas. A província é assim mesmo tem coisas boas e más. O conservadorismo português agudiza-se ao afastarmo-nos da capital, o contacto humano apazigua-se, estreita-se. Desta minha vinda às Caldas descobri uma nova livraria com actividades culturais e exposições de pintura e uma nova loja de criadores nacionais e estrangeiros. O instituto superior de design já nos tinha trazido exposições relembrando que a cidade tem tradição nas artes plásticas (José Malhoa, Bordalo Pinheiro). Óbidos tem dado o exemplo,feliz nos concertos de música clássica e ligeira,menos feliz, devo dizer,na organização de eventos de massas como a feira do chocolate ou a vila Natal, mas mexe e isso é bom. Ouso esperar que este é o sinal exterior de gostos mais abertos e cabeças mais arejadas, assim se começa...que bom:-)

Navegação à vista I

Circulando pela faixa da direita A8 acima, ou seja em direcção a Leiria, dou por mim pensando que certos portugueses me fazem lembrar matilhas de cães vadios. Todos querem provar que podem e mandam mais que todos os outros e para determinar a sua supremacia cheiram à exaustão o traseiro do vizinho da frente. Rosnam em cima do cangote do próximo e assim se impõem.
É isto mesmo que vejo aqui nesta faixa da direita em que circulo placidamente a 100-115 km/h (esta simples afirmação é da ordem do incompreensível para muitos). À minha esquerda passam vários automobilistas que se chegam a escassos centímetros do carro que têm à sua frente esperando que este se digne ceder-lhes passagem, a eles que assim provam ter uma grande pilinha, seguramente maior que a do caguinchinhas que puseram a mexer.
Mais à esquerda ainda os escassos centímetros são ainda mais comedidos e sucedem-se carrinhas BMW, Mercedes, Volvo, jeeps vários mas sempre colossais e uns quantos caganifés armados em carapaus de corrida. O espectáculo vale mais que mil filmes do Woody Allen pelo que revela da psicologia de boa parte dos meus queridos e queridas compatriotas. Acham todos que têm um pénis pequeno e por isso toca a mostrar que existe e que é bem grande. A minha pergunta é: que me importa isso a mim? E depois de morto de que lhes serve a eles e a elas?

O mais espantoso nem são as ultrapassagens mal feitas, sempre a escassos centímetros do carro da frente, o mais fantástico e intrigante é eu não estar sózinha nesta faixa da direita. Porque me parece que nada nos obriga a respeitar as mais elementares regras do código da estrada. Somos poucos mas bons os que lá vão conduzindo calmamente, sem outra preocupação que não seja a de chegar ao destino sãos e salvos dominando a máquina e a besta, sendo que a máquina é o carro e a besta o primitivo que há em nós.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Descolagem 3-2-1

Cá vou eu de férias merecidíssimas, ora, que não há outras, não é verdade?


Foto retirada deste blogue.




Desconfio que voltarei para contar a minha estadia por terras lusas, por isso não vos digo até 2007, digo-vos até logo...

P.S.: Tenho os presentes todos e as malas feitas desde ontem...isto não é habitual...acho que me vou esquecer de alguma coisa...

sábado, dezembro 16, 2006

Bom fim de semana!

Deixo-vos esta guloseima:-)

quinta-feira, dezembro 14, 2006

"Ouro sobre azul"...

Para atacar sexta-feira deixo-vos esta dose de vitamina C e Sol, de ar puro e horizonte sem fim.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Perder o Norte, reencontrar o Sul



Onde fica o Sul? Fica perto ou fica longe? Perto e longe são noções curiosas. Veja-se o meu exemplo. Quando estudava em Coimbra e vinha a casa ao fim-de-semana tinha depois de regressar apanhando um autocarro da linha de Expressos. O dito cujo saia das Caldas da Rainha e chegava entre 3 e 5 horas depois ao destino. Dependia se era um chasso velho a quem por caridade chamavam Expresso e que para estudantes servia bem, ou se era um calhambeque mais moderno.
Nos dias de 3 horas Coimbra ficava relativamente longe, nos dias de 5 horas parecia que só o centro de Portugal era do tamanho do país inteiro. Talvez por isso sempre me fez confusão quando dizem que somos pequeninos...quem sabe.
Voltando ao assunto. Em Bruxelas o Sul começa no bairro do matongé, bairro africano, ou então na place Flagey onde há muitos portugueses, espanhóis, gregos e magrebinos. Na realidade, quando me apetece um pouco mais de Sul apanho o Thalys e vou até Paris que me parece mesmo latino para gáudio e surpresa dos meus amigos parisienses.
O Sul é uma atitude, uma atmosfera. O meu nível de exigência vai oscilando consoante me encontre mais ou menos a Norte.
Daí que estando eu em Tampere, na Finlândia, no Domingo e Segunda-feira passados, o Norte me tenha parecido incontornável. No início da reunião que ali nos levou, desculparam-se pois tinham previsto tempo natalício e afinal não estava frio à altura. Entre nós cruzaram-se olhares de incredulidade. Estavam 5ºc, vento agreste e chuva miudinha constante. Suponho que queriam neve e céu azul. Nós teríamos preferido 15ºc e céu azul. O mais surpreendente é a simpatia dos finlandeses a que já tive ocasião de aludir aqui no blog. São mesmo simpáticos e despretenciosos, duas qualidades que aprecio e cada vez mais. Duas qualidades especialmente preciosas num país em que às 15h começa a anoitecer, fazem 5º quando não faz frio suficiente, chove e sopra um vento horizontal. Eu acho que nestas circunstâncias a simpatia é estoicismo puro.
Terminada a reunião, fomos de Tampere para Helsíquia num teco-teco para os poucos gatos pingados que dividem a sua vida entre a Nokia (ali sediada) e a capital. O teco-teco bailou alegremente ao sabor das rajadas de vento que sopravam até lá no alto. Mas aterrou. Sim , aterrou num momento de grande alívio e felicidade partilhado por uns poucos gatos pingados precisamente no mesmo momento. Hão-de convir que é uma coincidência engrançada.
Em Helsínquia eram 5h30 e a noite já ia avançada. Para o corpo não interessa se são só 5h30, é noite há duas horas, quer jantar e quer dormir. E não há argumentações que o levem de vencida. Azar. Porque o avião saiu com apenas 3h30 de atraso. O corpo achava que estávamos numa Rave e íamo-nos deitar de madrugada.
Acordei ontem em estado comatoso para uma Bruxelas de céu azul, ruído nas ruas. No telemóvel recordam-me Bruxelas é mesmo o Sul, não é? E é que é mesmo. Bruxelas, céu azul ou cinzento temperaturas menos frias, bons restaurantes, empregados de maus modos, condutores de eléctrico condescendentes, altercações na rua por sabe-se lá que razão, mercados de legumes frescos em todos os bairros. Automobilistas malcriados e stressados. Uma burocracia labiríntica, funcionários incapazes ou carolas é conforme...se isto não é o Sul...vão à Finlândia e depois digam-me...

sábado, dezembro 09, 2006

Bom fim de semana!

*Foto Ladurée
Deixo-vos esta guloseima:-)

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Cat people

O espaço ouve-se. Tem aquele silêncio de papel, oiço a minha respiração e espero sempre ouvir outra, a do espaço, a dos quartos e da sala. Não a oiço mas adivinho-a, sempre. O A. ausenta-se dois dias e eu recupero o barulho do espaço. Recupero as paredes que me olham só a mim. Dou-lhes alma, no dia a dia com um interlocutor humano esqueço-me delas.
Felinamente percorro as paredes e os cantos, ocupo o sofá por pura sensualidade espacial. Delicio-me com passos de dança, autênticas coreografias que invento com o prazer de não serem vistas. Só minhas e destas paredes, destes quadros, destas maçanetas das portas.
Deito-me, levanto-me, caminho, sento-me. Sem tempo, sem prazos, sem respostas. Puro prazer meu. O prazer meu entre divisões que são o meu corpo. Reecontramo-nos. Sabe bem esta dança de solidão amiga, este reencontro comigo.
Procuro o filme que queria ver, instalo-me gulosamente, cubro-me com a manta, ronrono sorridente de satisfação.
Lanço-me no jogo solitário de dia e meio comigo, carrego Play...

Bom fim de semana!

Deixo-vos esta guloseima:-)